Iremos até o fim; nunca nos renderemos!

Por acaso, lembrei-me de um dos discursos mais seguros e inspiradores do então Premiê inglês Winston Churchill, que estava à frente do Império da Grã-Bretanha, empossado em 10 de maio de 1940, 8 meses após a deflagração da II Guerra Mundial. Em 4 de junho de 1940, com suas palavras majestosas na Câmara dos Comuns, Churchill declarou: ‘Iremos até o fim; nunca nos renderemos!’ Essa alocução reverberaria pelo planeta até hoje e ficaria conhecida como ‘Lutaremos nas praias’, um dos principais, entre tantos outros, posicionamentos de Churchill na condução vitoriosa dos Aliados na Guerra que devastaria milhões de vidas e países inteiros, tornando-se um dos cancros de nossa história civilizacional que nos horroriza e arrepia apenas pela memória.

Cabem parênteses. Se a sanha nefasta do Eixo tivesse prevalecido, apenas The Man in The High Castle, excelente série do Amazon Prime,pode supor o que teria nos acontecido. Aliás, para quem quer entender um pouco do contexto e de um dos pontos de vistas da Segunda Guerra de maneira cinematográfica, recomendo para quem não viu o filme Darkest Hour – “O destino de uma nação” –, com Gary Oldman interpretando brilhantemente Winston Churchill, e a aclamada série The Crown, da Netflix.

Em nossos dias, o mundo foi surpreendido com uma pandemia impulsionada por um inimigo microscópico e ainda não curável, mas mortal. Além das mais de um milhão de vidas mundo afora perdidas, as nações se viram de mãos atadas e recorreram aos isolamentos sociais contra o COVID-19 – não é pretensão desse que vos fala discutir a eficácia de medidas sanitárias e foge ao escopo de sua expertise e propósito dessa opinião. Com isso, surgiu o “novo normal”: sanitização chernobílica, distanciamento social, auxílios aos mais carentes, carnificina, bilhões injetados nas empresas, reorganizações, falências, desemprego e fratura econômica cujas consequências não estão tão claras, principalmente porque a chegada da cura é imprevisível. Coronavirus.

Mas o que um discurso e o nosso estado atual de coisas tem a ver com a educação?

Nesse mesmo período de calamidade pública na saúde e em decorrência da crise econômica suscitada, o poder aquisitivo das pessoas caiu e o imbróglio negocial e até judicial se instaurou entre alunos e as instituições de ensino, estas e seus colaboradores e seus fornecedores para rever mensalidades, salários e pagamentos. Aumentou-se vertiginosamente a evasão, a quebra de instituições e a inadimplência de todos os lados. Eis a insatisfação e nenhum consenso. Alguns Estados resolveram, com uma canetada, impor descontos uniformes, como sempre, sem considerar as nuances de cada negócio. É o conhecido sócio que só lucra e em nada contribui, a não ser, e faço o aparte, com a pronta flexibilização normativa para o ensino para mantê-lo remotamente e proposições que ajudarão o setor a seguir o caminho, ainda que tortuoso, como as medidas trabalhistas, auxílios governamentais, crédito para o setor e a proposição dos Certificados de Recebíveis Educacionais, sobre o que falarei em outra ocasião.

Ora, não restam dúvidas de que a escolarização em todos os níveis é imprescindível, se bem utilizada pelo agente, para a sua prosperidade e autodeterminação e de toda a sociedade – e isso não se restringe à educação formal, a despeito de sua imperiosidade para o mercado. Não só para a alma e existência, o conhecimento é um ativo de imensurável valor em todas as esferas da vida individual e social, especialmente em países periféricos como o nosso que urge por pessoas que façam a diferença e profissionais gabaritados que contribuam para o seu desenvolvimento, ao invés de migrarem para outros povos por melhores condições de vida e trabalho, e legue às gerações anteriores o conforto da velhice e às posteriores, a dignidade e a continuidade.

É, portanto, que lembro das palavras encorajadoras de Winston Churchill para, nesse início de mais um semestre letivo, de captação, de retenção, de realização de sonhos, conclamar os atores da educação, como seu receptor entusiasmado e prospector imbatível, desde os alunos até os investidores, que, sendo razoáveis e não renunciando às possibilidades de cada um, sentem e conversem para chegar a um consenso que beneficie a todas as partes, caso a caso. Temos que nos despirmos da ganância, mesquinhez e insensatez tupiniquim, o “jeitinho brasileiro”, pararmos de esperar tudo do Estado, pararmos de olhar apenas para os nossos umbigos, assumirmos a imperiosidade de nossos deveres pessoais e responsabilidade sobre os nossos destinos e de tudo aquilo que de nós dependa. Isso em todos os lados.

Na educação, todos ganhamos. Todos. Muito depende de um ensino continuado, em todos os níveis, de boa qualidade e a preço e condições acessíveis. Olhemos para os que realmente necessitam; aos aproveitadores, as batatas!

Uma educação mais forte não se faz apenas com a união de pares, nucleada por entidades representativas digladiando para ver quem vai levar mais vantagem, não obstante, de toda a cadeia produtiva e consumidora. Vamos dar lugar à obviedade. Não requer tanto esforço intelectual para chegar a essas solares conclusões: não vivemos das boas intenções de quem consumimos, e vice-versa. São vontades contrárias que se satisfazem na troca de valores, consensualmente, desde que o mundo é mundo. Fazendo minhas as palavras retumbantes de Sir Winston Churchill:

Eu próprio tenho plena confiança que se todos cumprirem seus deveres, se nada for negligenciado, e se as melhores providências forem tomadas, como está sendo feito, deveremos nos provar capazes mais uma vez […] de superar a tempestade da guerra, e de sobreviver à ameaça de tirania, se necessário por anos, se necessário sozinhos. De qualquer maneira, isso é o que tentaremos fazer.

Unidos, iremos até o fim; nunca nos rendamos!

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