“Não tenha pena dos mortos. Tenha pena dos vivos, e acima de tudo, daqueles que vivem sem amor.”
Alvo Dumbledore
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Introdução
O personagem Albus Percival Wulfric Brian Dumbledore, mais conhecido como Alvo Dumbledore, foi um bruxo inglês mestiço que ocupou o cargo de professor nas matérias de Defesa Contra as Artes das Trevas e Transfiguração, bem como diretor, na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Ele também atuou como Cacique Supremo da Confederação Internacional dos Bruxos (?–1995) e Bruxo Chefe da Suprema Corte dos Bruxos (?–1995;1996–1997). Um bruxo que apoiava os direitos dos trouxas, embora o oposto completo durante sua juventude, que foi considero o maior bruxo dos tempos modernos e, talvez, de todos os tempos.[1] Ficção.
Certamente, não é preciso dizer em que mundo esse ícone viveu. Aliás, a saga Harry Potter é a mais vendida do mundo[2]; diz-se, alguns de seus livros, são os mais vendidos de todos os tempos![3]
Nas telonas, o personagem foi interpretado pelo ator irlandês Richard Harris em Harry Potter e a Pedra Filosofal (filme) e Harry Potter e a Câmara Secreta (filme). Devido ao falecimento de Harris, em 2002, Michael Gambon assumiu o papel de Dumbledore e o interpretou em todos os filmes restantes. Dumbledore é um dos 14 personagens que aparecem em todos os 8 filmes.[4]
A série Harry Potter é pop, quer sejam os livros, quer sejam os filmes. Alguns insistem em contrapô-la à saga Senhor dos Anéis e correlatos, de Tolkien. Mas cada uma tem seu lugar no imaginário coletivo.
Poderíamos passar dias, meses e até anos, como passei em minha pré-adolescência, debruçados na magna opus infantojuvenil de J. K. Rowling. No entanto, o intuito deste texto é para extrairmos algumas lições do estiloso Alvo Dumbledore, vivificado por Sir Michael Gambon, no dia de seu falecimento; escrito com saudosismo e certa tristeza, visto que Dumbledore é parte de minhas memórias afetivas.
Aprendendo com Dumbledore
“São as nossas escolhas que revelam o que realmente somos, muito mais do que as nossas qualidades.”
Alvo Dumbledore[5]
Alvo Dumbledore distingue-se como um exemplo de líder, admirado não apenas pelos personagens do mundo mágico, antes pelos leitores e espectadores do mundo real. Sua direção em Hogwarts oferece valiosas lições que os diretores de instituições educacionais da vida real podem aplicar em suas próprias trajetórias. A seguir estão algumas dessas lições.
1. Conheça seus alunos individualmente
Mais do que uma obrigação do corpo docente e do corpo técnico-administrativo da instituição, conhecer o corpo discente como um todo, e um a um, é um dever político da liderança institucional. Isso não pode ser eventual, no momento da cobrança financeira ou da penalização por um malfeito, tampouco devem ser tratados como estatísticas ou experimentos para alavancagem do negócio. Afinal, não queremos que nossos alunos literalmente criem um motim contra nós, como o que inquisidora ministerial Doleres Umbridge enfrentou em sua intervenção ditatorial e desastrosa em Hogwarts.
Dumbledore tinha uma habilidade única de conhecer cada aluno de Hogwarts pelo nome e entender suas necessidades individuais. Quiçá, até mais do que o Chapéu Seletor, objeto mágico animado responsável pela seleção dos alunos para as 4 casas.
E não é preciso ser clarividente, como Alvo, para conseguir essa proeza. De ver-se que o encantamento do cliente permeia todas as cadeias empresariais. É a tônica do mercado, em todos os seguimentos. Portanto, o líder educacional de sucesso não pode olvidar a necessidade premente de, ao conhecer seu alunado, planejar seu desenvolvimento institucional com base também nas demandas pessoais de seus pupilos.
Em síntese, a direção educacional pode lançar mão disso facilmente, especialmente da iniciativa privada, mostrando interesse genuíno pelos alunos, conhecendo suas histórias, planos e desafios pessoais. Isso cria um ambiente de apoio e confiança, essencial para o desenvolvimento acadêmico e emocional dos estudantes. E, afinal, é a partir de cada aluno que o nosso PDI pode ser realizado e o sustento de todos advém.
2. Promova a inclusão e a diversidade
Inclusão e diversidade, para além de imposições normativas dos órgãos reguladores da educação e dos Poderes estatais, em todos os seus níveis, bem como da apropriação ideológica por segmentos políticos, urge e é uma demanda social em voga há anos, corolário da inerente dignidade da pessoa humana a todos reconhecida e garantida – ou deveria sê-lo.
Hogwarts acolhe bruxos e bruxas de diferentes origens, casas e talentos. Dumbledore sempre defendeu a igualdade e a inclusão, independentemente do sangue ou da habilidade mágica de seus alunos. Alguns dizem que Dumbledore era tendencioso à Grifinória… Mas não deixava de respeitar e ressaltar a importância de cada casa. Isso fica evidente na Copa das Casas, um jogo interno que se desenrola ao longo do ano letivo entre as 4 casas da Escola, cujo placar se dá de diferentes formas, desde a conduta individual do membro de determinada casa até atividades de ensino e extracurriculares, como os jogos de Quadribol.
Em contraste, não à toa, o antagonista da trama, Lord Voldemort, é um supremacista racial.
Diretores escolares na realidade devem seguir esse exemplo, criando ambientes inclusivos que celebrem a diversidade e respeitam a singularidade de cada aluno e seu background, observando, mas independente das Leis que lhes obriguem.
3. Cultive uma equipe dedicada
Dumbledore liderava uma equipe de professores talentosos, cada um com suas próprias especialidades e personalidades. Ele permitia que eles brilhassem em suas atividades e valorizava suas contribuições. Ora, só os professores da disciplina de Defesa Contra as Artes das Trevas que não paravam em seus postos. Todos os cursos têm aquela disciplina non grata.
Um pouco de conhecimento sobre a criatura humana basta para saber que uma equipe de alta performance depende de diversos fatores motivadores, recompensadores e penalizadores que não se limitam aos financeiros, embora sejam os principais. O reconhecimento profissional, ademais os deveres comuns aos empregadores, como honrar seus compromissos em dia, deve provir de bonificações financeiras e não financeiras, da escuta ativa e de feedbacks, da compreensão e acolhimento, de provimento providencial de suporte para a realização do trabalho, entre outras coisas, assim como a justa aplicação de punição aos maus profissionais. Afinal de contas, é necessário apenas uma fruta podre para contaminar as demais do cesto.
Tudo isso, não tenha dúvida, depende da liderança. Se o time vai mal, a culpa é da liderança; se vai bem, é graças a liderança. O líder da equipe é sua coesão. Basta olharmos como as figuras emblemáticas de nossa história foram bem-sucedidas e passaram para a posteridade seus nomes e feitos.
Em suma, os gestores podem aprender a importância de delegar – não delargar – responsabilidades e incentivar o desenvolvimento profissional de sua equipe, promovendo uma cultura colaborativa e de excelência.
4. Esteja disposto a tomar decisões difíceis
Esta lição é parte da anterior, pois faz parte da liderança tomar decisões nada fáceis e, claro, arcar com as consequências dessas decisões. Geralmente, sozinhos.
No decorrer da fábula, Dumbledore teve que decidir pelo bem maior. Isso incluiu demitir professores problemáticos, buscar até conseguir a contratação de outros, enfrentar desafios políticos e proteger a escola contra ameaças perigosas. Gestores reais também enfrentam dilemas difíceis como esses, rotineiramente, e a capacidade de tomar decisões fundamentadas, ponderadas e corajosas é essencial para o sucesso de uma instituição educacional.
[ALERTA DE SPOILLER] Dumbledore dá literalmente sua vida pela de seu pupilo, amigos e trabalho. O lugar mais protegido do mundo da magia, na verdade, não passava de uma lenda, uma vez que episodicamente estava sob ataques, desde tragos nas masmorras a invasão de comensais da morte.
Infelizmente, no mundo real, e não muito raro, porém, graças a Deus, arrefeceu, assistimos a investidas ensandecidas e covardes contra instituições de ensino em que alunos e colaboradores foram brutalmente assassinados.
O gestor educacional, hoje, não enfrenta tão só as intempéries naturais, da sociedade, mas também da guinada tecnológica, os problemas que a acompanham que impactam fortemente as gerações recentes.
Dumbledore, em um submundo feudal, mantinha o prestígio de Hogwarts a duras penas, e seu sucesso se deve a sua coragem em arriscar sua pele e decidir firmemente diante das dificuldades que se lhe apresentavam, tendo em vista que sua sabedoria e, claro, seus poderes lhes asseguravam o porvir.
Por isso, parafraseando o mestre, lembre-se de acender a luz nas horas mais sombrias.
5. Promova a aprendizagem contínua
Dumbledore era um eterno aprendiz e incentivava o mesmo nos alunos e na equipe de Hogwarts. Sua sabedoria não se refletia em suas vestes senhoriais e esotéricas, cabelos e barbas longas, ornados por óculos perspicazes. Ele valorizava o conhecimento, sendo ele mesmo a fonte na qual todos buscavam aprender e se aconselhar.
Instituições educacionais, loci naturais do conhecimento, devem promover seu ecossistema não só para benefício próprio, mas como um lugar em que seus egressos sempre encontrarão apoio e conhecimento, nos diferentes níveis que porventura atue.
A propósito, a atuação em rede, para aquelas instituições que não abarcam o cipoal de formas em que o ensino, a pesquisa e extensão podem se articular, são incentivas pelo Conselho Nacional de Educação e beneficiam os coparticipes.
Diretores de escolas podem inspirar uma cultura de aprendizado contínuo, incentivando o desenvolvimento acadêmico e profissional de todos os envolvidos na instituição.
6. Comunique-se eficazmente
A habilidade de Dumbledore para se comunicar de maneira clara e inspiradora é uma qualidade que os diretores de instituições educacionais podem almejar e devem adotar. Uma comunicação aberta e eficaz com alunos, pais, professores e colaboradores é crucial para construir relacionamentos sólidos e manter uma atmosfera de confiança e colaboração.
O conteúdo da comunicação não é o mais importante, todavia, a forma posturada e o momento do que se quer expressar dão o tom do diálogo, o qual, jamais, deve ser prescindido.
A despeito disso, a comunicação não se cinge ao falado e ao escrito; não obstante, as ações falarão mais alto.
Devido à diversidade da comunidade acadêmica e ao contexto socioeconômico e cultural, é primário que os líderes educacionais busquem compreender as idiossincrasias de seus liderados. Só assim poderão ser eficazes em sua comunicação e ação.
Enfim, o gestor de uma entidade de ensino tem diversas oportunidades de se manifestar oficial e não oficialmente. Não perca o timing.
7. Esteja preparado para o futuro
Dumbledore sempre esteve um passo à frente, antecipando desafios e planejando estratégias para enfrentá-los. Diretores escolares devem estar preparados para lidar com mudanças e incertezas, planejando com antecedência e adotando abordagens inovadoras para garantir o sucesso futuro de sua instituição.
O malfazejo COVID-19 assolou o mundo, de certo modo, previsivelmente. Mas ninguém estava preparado, nem mesmo os governantes, que se espera terem informações privilegiadas. A peste acelerou a virtualização do ensino, o surgimento e aperfeiçoamento de tecnologias da informação e comunicação, e mostrou-nos a importância do planejamento com análise de risco.
Atualmente, a afamada Inteligência Artificial, aliada a Internet das Coisas, a Aprendizagem de Máquina, a WEB 4.0 etc são recebidas com grande entusiasmo por alguns e com preocupação por outros. Muitas profissões deixarão de existir, como sempre aconteceu com o progresso da humanidade, especialmente pós-Revolução Industrial. Agora, entretanto, a alta velocidade das mudanças verticalizam-nas vertiginosamente, tornando quase impossível acompanhá-las.
Nessa toada, surgem novas formas de gerir, menos burocráticas e mais sofisticadas, como os Métodos Ágeis, importadas das start-ups e das aldeias de TI, tornam o planejamento, execução, acompanhamento e ajuste de negócios, produtos e serviços mais rápidos e assertivos.
Uma coisa é certa. Os dados estão sobejando e mais fáceis para minerá-los para apoiar decisões acertadas pro futuro, como, por exemplo, por meio do Business Intelligence (BI).
Simultaneamente a todas essas inovações, que trouxeram comodidades com força G acima do que os mancebos podem superar, há o fenômeno da geração “nem-nem”, especialmente no que toca ao desinteresse pela educação formal, agravada pela valorização de capacitações expressas para habilidades úteis ao mercado, coloca em xeque a necessidade de despender 12 anos na Educação Básica e de 1,5 a 6 anos na Graduação. Nesse sentido, muitas empresas, como as da área de TI, sequer exigem mais escolaridade e diplomas, senão apenas o know-how; grandes negócios, como de marketing digital, surgem no oceano azul que é a internet e as redes sociais, em que nômades migram do destino comum de estudar e trabalhar da maior parte da população para uma vida superabundante de riqueza e ostentação.
Essas são apenas algumas dificuldades que um líder educacional enfrenta em nossos dias e não podem ser ignoradas.
Por fim, do mesmo modo que ninguém entraria num avião sem manutenção em dia, cujos pilotos não tenham sido treinados para pilotá-lo, sem plano de voo e toda a operação seguríssima que envolve a aviação civil, ou se submeteria a uma cirurgia conduzida por profissionais sem capacitação e protocolos operacionais padrão, um colaborador e um aluno jamais deveriam confiar suas vidas e investimento a instituições sem planejamento e liderança.
8. Finalmente
Em resumo, Alvo Dumbledore é um modelo a ser seguido por aqueles que lideram instituições educacionais do mundo real. Suas lições de liderança, inclusão, comunicação e dedicação à aprendizagem podem inspirar diretores a criar ambientes escolares onde os alunos possam crescer e prosperar, assim como os bruxos e bruxas de Hogwarts.
[1] Alvo Dumbledore. In: Harry Potter Wiki. Disponível em: < https://harrypotter.fandom.com/pt-br/wiki/Alvo_Dumbledore > Acessado em 28 set. 23.
[1] Id. Ibidem.
[2] DELCOLLI, Caio. ‘Harry Potter’, de JK Rowling, se torna a série de livros mais vendida do mundo. Folha de São Paulo. São Paulo, 28 de setembro de 2023. Disponível em: < https://www1.folha.uol.com.br/harry-potter-de-jk-rowling-vira-serie-de-livros-mais-vendida-do-mundo > Acessado em 28 set. 23.
[3] CRUZ, Ana Laura. Conheça os 15 livros mais vendidos de todos os tempos! Maiores e Melhores. Disponível em: < https://www.maioresemelhores.com/livros-mais-vendidos-de-todos-os-tempos/ > Acessado em 28 set. 23.
[5] ROWLING. J. K., Harry Potter and the Chamber of Secrets.